26 dezembro, 2007

New Rave: Ai, eu tenho preguiça

Tentei seguir o conselho de uma amiga. Estávamos conversando e pedi que ela me explicasse o boom do tal new rave, pois eu honestamente não consigo compreender. Ela me disse que também não consegue e me aconselhou: faça como eu, finja que eles não existem. Gente, mas como? Eles estão em toda parte, o tempo inteiro.

Segundo o Wikipedia, new rave é o estilo musical que cria a fusão de elementos de indie rock, electronic, new wave e disco. Definição confusa, não é? Isso pode ser muita coisa e, pelo conceito, muita coisa boa. Mas não é dessa definição ampla que estou falando. Estou falando do que está na boca do povo e o que, por falta de nome talvez, passou a ser chamado de new rave. Exemplos: Cansei de Ser Sexy, Bonde do Rolê, New Young Pony Club...bom, acho que já deu para entender.

The KlaxonsDizem que tudo começou com Klaxons, até mesmo o nome new rave foi uma piadinha de Jamie Reynolds. Então fui na raiz do problema. Comecei com “Golden Skans” e me surpreendi. A faixa é boa e não parece com nada do que é colocado no mesmo “balaio”. Continuei minha pesquisa com “Magick” e, aí sim, consegui encontrar um pouco de onde vem a inspiração destes grupinhos que ficam se reproduzindo mais rápido que coelhos.

Todo mundo sabe que a história da música (principalmente, o lado que se preocupa com as vendas) é cheia de modinhas que chegam, infernizam a vida de todo mundo e cinco anos depois as pessoas que adoravam olham para trás e pensam: Meu Deus! O que eu estava pensando? – e isso não é só na música, convenhamos.

Acho honestamente que em cinco anos todos acordarão desta “viagem errada” e perceberão que simplesmente não presta. Igual aconteceu com Menudo ou New Kids On The Block (ta, eu sei que demorou mais que 5 anos, mas eu tenho esperança).

O exemplo vem a calhar. Em São Paulo nasceu mais uma dessas bandinhas: New Rave Kids On The Block (NRKOTB). O grupo de apenas 2 meses de vida já foi convidado para tocar no exterior, ao lado de Klaxons, The Go! Team e Hot Chip. Que bom para eles, não é? A única coisa que me preocupa é que isso é o tipo de música que estamos exportando (e importando também) e a única coisa de original que ela tem é a completa falta de qualidade (oops, acho que a parte Trash deste blog já prova que isso não é tão original assim).

Raphael Caffarena, do NRKOTB, disse:

“Com o Bonde do Rolê a gente não tem nada a ver. A única semelhança entre as três bandas (Bonde do Rolê, Cansei de Ser Sexy e NRKOTB) é que ninguém sabe cantar, então disfarça com rap ou berro”.

Obrigada, alguém pelo menos tem ainda o senso de admitir. Diferente, por exemplo, do Adriano Cintra do Cansei de Ser Sexy (CSS) que em entrevista ao G1 me solta uma reclamação em relação à crítica brasileira:
“Aqui existe uma cultura do “xoxo”. Ai, dá uma preguiça... Mas não foi todo mundo falou mal da gente, muitas pessoas apoiaram a banda desde o começo. No Brasil a crítica especializada não ouve a música, fica só patrulhando o que o artista representa. E o que é o Cansei? Um monte de meninas loucas e eu no meio”.

Com todo respeito pelo esforço e sucesso que o grupo me merece (essas coisas têm que ser valorizadas), não faz a menor diferença se são meninas loucas ou freiras. Que fossem senhores de respeito vestidos em ternos Armani, o problema é a música (se é que assim pode ser chamado o som produzido por essa nova onda).

John Harris, crítico do The Guardian (só para mostrar que não tem nada a ver com cultura brasileira do “xoxo”), chamou o gênero de “piss-poor supposed youthquake que logo sairá de moda assim como o rave”. Em uma tradução Tabajara, ele disse algo como “um cocô azedo juvenil”. Porque será que ele disse isso?

Cansei de Ser Sexy- “A galera esfrega o pinto na dama da lotação” (Office Boy, Bonde do Rolê);
- “Alala alguém me avisa, quando é bom parar de fazer a vítima” (Alala, CSS);
- “Hey I think I know that sweet cherry pussy, Vivian the whore, the whore next door uhuu” (Vivian The Whore Next Door, NRKOTB);
- “Go to the record store, steal some records man” (Hustler, Simian Mobile Disco), e por aí vai.
Poesia pura.

Claro que no meio de um rótulo sempre é possível encontrar algumas coisas positivas, por exemplo, o LCD Soundsystem que também é incluído no “novo gênero”. Mas como já expliquei não é desse tipo de experimentalismo que estou falando.

Desculpe se estou ofendendo seu gosto (afinal isso não se discute, se lamenta), mas se você gosta realmente disso, por favor, me explique o porquê e me dê uma razão para crer que tudo isso não passa de mais um equívoco musical que aparece de tempos em tempos para azucrinar os ouvidos.

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Só completando, a vocalista do Bonde do Rolê, Marina Vello, saiu do grupo há aproximadamente um mês, depois de muita briga e, aparentemente, eles nem se falam mais. Comentando sobre os planos para o futuro e o motivo da saída, Marina Vello disse:
“Eu gosto de letras bem-humoradas, mas, para mim, essa piada do Bonde do Rolê já tem dois anos, já perdeu a graça. Pode ser que seja legal para alguém que acabou de conhecer o grupo, mas, eu estou há dois anos direto com isso, enche o saco mesmo”.